domingo, 23 de agosto de 2009

Paciência


O que se faz quando a paciência foi embora ou até mesmo quando nem ao certo se sabe o que se quer dela? Falo tanto nessa palavra que mesmo procurando no dicionário eu não consigo me ater ao significado dela. Para mim paciência significa outra coisa, tem outro conceito, é outra concepção.
Paciência para mim é algo que não sei lidar, não sei explicar, não sei entender e resumidamente não quero. Aliás, acho que realmente é isso – eu não desejo apreender o seu significado. Paciência tentou entrar na minha vida e eu não deixei, não abri minhas portas para ela.
Paciência chegou cheia de presentes na mão e joguei tudo no chão. Nada que venha dela me agrada. Nada ligado a ela me atrai, me deixa em paz, me satisfaz.
Paciência é uma daquelas tias velhas que só aparece na tua casa para te apertar as bochechas e te chamar de fofa. E parecer “fofa” é algo que eu realmente não desejo a essa altura da vida.
Paciência é um pneu furado em pleno centro de São Paulo as duas da manhã. Rua vazia eu sozinha e pior, não tenho ideia onde fica o estepe.
Paciência é uma cebola crua, sem gosto, e ainda, do nada, me faz chorar. Ela é um trem perdido em pleno Brás, um metrô às 18hs na estação Sé. Paciência é um sorvete salgado salpicado de coco. É um doce de feijão ou um tratamento de canal.
Paciência para mim é algo tão insólito, tão abstrato, tão “impalpável”, tão desagradável, tão sem sentido, tão amargo, tão injusto, tão dolorido e outros tantos “tãos” que em cansei só de abrir minha alma sobre essa tal de paciência

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Dia dos Pais


Sumiu o beijo de boa noite. Parou o café com leite dado na cama todos os dias. Não ouço mais ele me chamando de muñeca. Ninguém mais me busca na escola. Acabaram-se os jogos de futebol e os cuidados. A primeira visão masculina que se tem na vida, a primeira inspiração, o primeiro exemplo masculino, a primeira pessoa que se pensa quando a palavra segurança passa na mente. Meu porto seguro. O olhar de aconchego. Dez anos sem. Dez anos de falta.

Texto na Revista do Jornal O Globo - Martha Medeiros - Jornalista e escritora

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M...A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Falta do quê...

Sabe aquela falta que nada e nem ninguém sabe do que é? Pois é, existe. Uma falta danada de algo que não se sabe do que é.
Pior que isso dá uma angustia tão grande de vida, mas tão grande que vira banzo. Acho que terei que explicar o que é isso? Banzo, no dicionário popular é uma palavra que os escravos usavam quando sentiam saudade ou falta muito doida de seu lugar de origem. Seja esta origem qual fosse.
A falta é realmente isso, algo bem intenso. Uma falta daquilo que ainda não se teve. Falta de viver algo que ainda não se viveu. Falta do eu. Falta de se encontrar. Falta de sabe-se lá o quê. Falta é a ausência de algo, e quando não se sabe ao certo que “algo” é esse? Que ausência é essa?
Falta tem cara de algo triste, inverno sozinho, bolo sem açucar, chocolate branco, pão duro, cheiro de Lapidus, esfolado no joelho, catupiry e doce de coco. Falta tem aspecto de dor e de vazio. Falta me remete ao que é ruim.
A vida é sempre uma eterna busca, um eterno aprendizado, mas sem saber ao certo o que se buscar, o que se aprender, ai fica bem difícil. Como se vive dessa forma, de que jeito de administra uma vida tendo essa falta como espelho constante?